sábado, 14 de janeiro de 2012

MOMENTO SCHOPENHAUER

Depois de um bom tempo, resolvi escrever. A sensação é que posso talvez retirar o que sinto aqui dentro usando as palavras. É como contar a alguém, desabar. E como não há ninguém aqui... Sim, você é um ser sociável e completamente sozinho. Eu diria que esta regra é um tanto quanto contraditória, sendo quase uma maldade do “acaso”.

Nos últimos dois dias a horizontal têm sido minha posição preferida, e a minha companhia a melhor que posso ter. O mal estar e a dor são só meus e ninguém pode senti-los. Não é nada grave, o médico, assim como a bula do antibiótico garantiram que irá passar no mais tardar em sete dias.

Algumas pessoas deixam passar despercebidas gripes, alergias, infecções, resfriados, etc e tal. Eu não. Quando as tenho, reflito sobre quão vulnerável é o ser humano e como quase todos, incluindo eu mesma, se comporta como se fosse intocável, inatingível. A maioria valoriza coisas completamente absurdas. Felizmente, desse time eu não faço parte. Pode parecer estranho, aliás devo ser mesmo uma “mina estranha”. Tive uma crise de choro ao ver aquela multidão de chineses alienados, aguardando ansiosos, a abertura da loja oficial da Apple sediada em Pequim. Eles estavam completamente alucinados, e acreditem, por um celular, apenas um celular. Espero que um dia criem celulares comestíveis, pois nós, como eu costumo dizer em momentos pessimistas como este, “malditos humanos”, ainda não percebemos que eles não matam a fome e nem curam doenças.

A cultura oriental afirma que problemas nos rins sinalizam medo. E sim, há algum tempo perdi muito de minha coragem. Logicamente ainda resta alguma coisa dela, e o meu otimismo a carrega nas costas, sem queixas, sem desistências.

Minha saúde mental é automaticamente atingida quando algo em meu corpo vai mal, pareço outra pessoa. A avolia é representada pela pressão que marca 9.6, ao passo que as 115 batidas por minuto interpretam minha angústia.

Fico então deitada por uma ou duas horas sem me mexer. Lembro-me de algumas perdas. Lembro-me da juventude sendo consumida pela ausência de saúde, exatamente como éramos consumidos pela presença da total impotência.  

Me entristeço profundamente ao perceber que ao invés de passar com o tempo, algumas dores, ainda muito piores que a física, irão me acompanhar. Sinto vontade de não estar ali, então respiro cada vez menos e mais devagar. Minha visão fica primeiro amarelada, depois verde e depois mais escura. As cores vão passando como ondas, amarelo, verde, preto. Oscilam contra minha vontade, pois meu desejo é que o preto predomine. Sou vencida por um movimento involuntário e então meus olhos se fecham. Sincronizadas, as lágrimas caem devagar. Posso senti-las marcando minhas têmporas e chegando aos meus ouvidos. Elas gritam. Você está viva! E eu respondo mentalmente. Eu sei, mas hoje, só hoje ficarei inerte!

Amanhã recomeço, e tudo volta ao normal!

2 comentários:

  1. Em resposta à amiga, Rafael debruçou-se em seu caderno. Procurava palavras certas. Palavras acolhedoras. Pensou em autores. Frases copiadas. Debates sobre o eu. Em resposta, procurou a pergunta. O que ela precisa? Quais os medos? O que posso fazer? Em resposta, Rafael ficou na pergunta. Perguntava qual era a resposta. Resposta essa que ele queria. Resposta essa que ninguém tinha. Então, para responder à amiga, Rafael disse: Sua angústia é minha. E nosso, é a vontade de viver, mesmo que hoje, deixamos para amanhã.

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